O Assédio Moral no meio sindical: uma contradição na luta de classes

foto-mesa-debateFalar em Assédio Moral já não é tão novo, mas abordar o tema no meio sindical ainda é um desafio. Desafio este que a Fites (Federação Nacional dos Trabalhadores em Entidades Sindicais e órgãos de Classe), com o apoio do Sindes (Sindicato dos Trabalhadores em entidades sindicais da Grande Florianópolis e Região Sul), encarou ao lançar, no dia 30 de outubro, a cartilha “O Assédio Moral no Meio Sindical”. O lançamento foi realizado no auditório da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, com o apoio da Frente Parlamentar Estadual em Defesa da Saúde do Trabalhador.

“O Assédio Moral fere os direitos e retira a identidade dos trabalhadores. A Frente surgiu com o objetivo de debater e combater esta prática. Para acabarmos com o assédio moral precisamos construir várias ações, mas, principalmente, conscientizar os trabalhadores e as trabalhadoras. A Frente parlamentar tem buscado avançar nesta luta”, disse o deputado Neodi Saretta (PT), presidente da Frente, que abriu a mesa do debate.

foto-debate“A atual gestão da Fites priorizou esta luta. A cartilha traz alguns diferenciais de outras cartilhas sobre o assunto. A cartilha da Fites fala do assédio cometido pelo sindicalista, traz um depoimento de uma trabalhadora em sindicato e um questionário a ser respondido pelos trabalhadores e encaminhado à Federação”, disse Janilde Franco de Araújo, Diretora de Política Social da Fites, trabalhadora do Sindsprev/RJ e uma das elaboradoras da cartilha.

Na opinião de Janilde, “alguns sindicatos começaram a se transformar em grandes escritórios. É como se o sindicalista passasse a ter uma grande empresa para administrar. Ele não vai mais para a base fazer política e começa a disputar espaço com o funcionário dentro da entidade. Toda relação de trabalho tem conflitos. Isto é inerente à sociedade capitalista na qual vivemos onde há hierarquia, relação de poder e luta de classes. Mas o que deve imperar é o respeito.”

Emocionada, a diretora da Fites e do Sindes, Sivandra Krauspenhar, trabalhadora de sindicato e vítima de Assédio Moral, fez um relato do assédio que sofreu. Ela falou a dificuldade de denunciar o assédio e buscar a Justiça. “Fiquei três meses para poder escrever sobre o que aconteceu comigo. Escrever era relembrar o assédio”, conta. “Sempre trabalhei com amor e carinho. Foram 13 anos e não três dias. Não foram todos os diretores que me assediaram, mas os que não se manifestaram foram coniventes. Tive sintomas como depressão profunda, paralisia da cintura para cima, dores nos braços, entre outros. Quando retornei de uma licença médica eles tiraram minhas funções. Apesar de vítima, você se sente culpada pelo assédio. O apoio doa amigos da família é fundamental. É preciso também que o trabalhador que sofre assédio procure o seu sindicato para ser orientado. O Sindes me apoiou muito.”

“Assédio moral dói. Mas, quando vem de pessoas, sindicalistas, que dizem combater esta prática, dói mais ainda”, disse Schirlei Azevedo, Representante da Rede de Combate ao Assédio Moral no Trabalho. “Em uma empresa privada, a gestão visa o lucro e para isso oprime os trabalhadores. Dentro das entidades sindicais é ainda mais sofrido. Quando o trabalhador é também um militante, ele sonha com uma mudança na sociedade e quando o assédio acontece dentro do espaço que deveria ser de transformação e luta, ele perde sua identidade, desanima. Viver estas contradições é muito difícil. A solidariedade de classe precisa ser resgatada”. Para Schirlei, as relações de trabalho estão desumanizadas. Isso é resultado da sociedade capitalista que oprime os trabalhadores. “Não existe capitalismo humanizado. O capitalismo oprime e até mesmo ceifa vidas”.

“O trabalho continua sendo central nas nossas vidas e quando acontece alguma coisa negativa no trabalho, isso nos abala muito. Os trabalhadores em sindicatos se questionam o porquê sofreram algum tipo de violência se não estão em uma empresa privada. Em uma empresa, se o trabalhador se submete ao assédio, é um processo rápido até a sua demissão. No sindicato leva o tempo que a pessoa aguentar”, argumentou a palestrante Margarida Barreto, médica do trabalho, professora da Universidade de São Paulo (USP) e vice- coordenadora do NEXIN (Núcleo de Estudos Psicossociais da Dialética Exclusão/Inclusão Social).

Em uma empresa privada os trabalhadores compram a ideia de que se a empresa crescer eles crescerão juntos. Em uma entidade sindical os trabalhadores compraram a ideia de que podem transformar o mundo”, ponderou a palestrante. “Não é possível aceitar que a solidão e o sofrimento do trabalhador sejam uma coisa normal. Que a injustiça impere no local de trabalho”.

O presidente da Fites e do Sindes/SC, Edilson Severino, que coordenou a mesa, disse que o desafio da Fites está só começando. “É um primeiro passo. Há muito o que fazer. A cartilha será lançada em outros estados no intuito de iniciarmos um combate a esta prática nefasta aos trabalhadores”.

                                                                                                                                                                   Texto e fotos: Marcela Cornelli, jornalista e Diretora do Sindes

3 respostas em “O Assédio Moral no meio sindical: uma contradição na luta de classes

  1. Nota de Esclarecimento do Sindes

    A Direção do Sindes vem à público esclarecer sobre a nota acima emitida por alguns trabalhadores do Sinjusc.
    Esclarecemos que o Sindes foi procurado por três trabalhadoras, duas funcionárias do Sinjusc e uma funcionária da Escola do Sinjusc, que alegaram estarem sendo vítimas de assédio moral praticado pela diretoria do Sinjusc.

    Visando apurar irregularidades apresentadas pelas trabalhadoras, o Sindes aprovou o ingresso de uma ação coletiva na Justiça do Trabalho. Ação coletiva é aquela que envolve um conjunto de pessoas.

    Reiteramos que não há qualquer intenção do Sindes em receber vantagem financeira com esta ação. Tanto que em nota divulgada para os nossos filiados(as) explicitamos que qualquer ganho com a ação será revertido para um fundo de saúde do trabalhador, como está no processo (o número do processo é 0011025-84-2013-5120037).

    O Sindes ainda vem à público para dirimir quaisquer controvérsias a respeito da descrição dos funcionários mencionados na respectiva ação. A ação coletiva faz menção somente a respeito das funcionárias que realizaram as denúncias já mencionadas.

    Reforçamos também que o Sindes esteve várias vezes no Sinjusc e não foi possível achar uma solução conjunta e política para a situação.

    O Sindes entrou com a ação porque é o que se espera de uma entidade sindical, diante do pedido de socorro das trabalhadoras e filiadas.

    O Sindes informou no processo as possíveis irregularidades e quem deverá decidir sobre o caso será a justiça.

    O Sindes está de porta abertas para mais esclarecimentos.

    Diretoria do Sindes

    Curtir

  2. O lançamento de nossa cartilha sobre assédio moral no meio sindical foi um marco importante na nossa luta contra esse ato de crueldade hedionda. Faremos novos lançamentos e acreditamos que nos locais de trabalho também haja lançamentos menores.

    Curtir

  3. NOTA DE REPÚDIO DOS TRABALHADORES DO SINJUSC AO SINDES
    O coletivo de trabalhadores do SINJUSC abaixo identificado repudia a forma com que o SINDES encaminhou a chamada ação coletiva de assédio contra a diretoria do SINJUSC, assim como repudia as insistentes publicações contra o SINJUSC sem que o conjunto de trabalhadores do local de trabalho seja ouvido. Os trabalhadores abaixo identificados estranham que essas ações ocorram justo neste momento, em que há disputa eleitoral pela Direção do SINJUSC. Ressaltam, também, que a dita ação coletiva de assédio foi decisão unilateral do SINDES, sem consulta aos trabalhadores do SINJUSC que assinam esta nota, maioria no local do trabalho, numa atitude antidemocrática que não nos representa. Esclarecemos, ainda, que além daqueles que assinam esta NOTA DE REPÚDIO, são empregados do SINJUSC outras duas pessoas, ambas diretoras do SINDES.
    Florianópolis, Novembro de 2013.

    Salete Silveira da Silva, administrativo do SINJUSC, filiada ao SINDES
    Suelen Steffenon, auxiliar administrativo do SINJUCS, filiada ao SINDES
    Vanilda Lopes, auxiliar de limpeza do SINJUSC, filiada ao SINDES
    Vanessa Brasil, auxiliar administrativo do SINJUSC, não filiada ao SINDES
    Josemar Sehnem, jornalista, não filiado ao SINDES
    Rubens Lunge – jornalista, ativista cultural, não filiado ao SINDES

    Curtir

Deixe um comentário